4.4. As pesquisas a serem ainda desenvolvidas

Uma quantidade significativa de informações originais sobre R. schistocercoides foi adquirida através da execução deste projeto. O nível de conhecimento atingido permite fundamentar cientificamente a estratégia de monitoramento e de controle preconizados. Entretanto, vários temas para pesquisas futuras merecem serem prosseguidos, dentro de uma óptica mais operacional.

4.4.1. Biologia e ecologia do gafanhoto

Apesar dos diversos dados obtidos por este projeto, vários pontos da biologia e ecologia de R. schistocercoides necessitam ainda serem detalhados, principalmente aqueles relacionados ao determinismo das pululações, permitindo uma melhor apreciação e previsão da ameaça que este gafanhoto representa. Podem ser citados mais especificamente:

Este último ponto reveste-se de um interesse bastante especial e é discutido em seguida mais detalhadamente.

4.4.2. Monitoramento das condições ecológicas da área de pululações

Baseando-se nos dados obtidos neste projeto, é muito provável que o estado fenológico das zonas de campo cerrado (reflexo da influência das chuvas e das queimadas) tenham um papel chave no determinismo das pululações. Este estado fenológico pode ser monitorado globalmente com a utilização de dados de alguns satélites de alta resolução temporal (SPOT4, NOAA/AVHRR, DMSP, POLDER, entre outros).

Um teste preliminar de reconhecimento dos biótopos do gafanhoto foi realizado com dados do satélite NOAA/AVHRR/HRPT (GAC). Diferentes composições multiespectrais e algoritmos de classificação de imagens foram testados (Figura 29). Índices normalizados de vegetação foram estabelecidos. Uma primeira análise da variabilidade sazonal da vegetação na área estudada já foi realizada (LACRUZ et al., 1994).

Com a instalação de antenas de recepção de dados NOAA na Embrapa Monitoramento por Satélite e na ECOFORÇA, o procedimento pode tornar-se sistemático. Aliás, a disponibilidade para o futuro de uma antena NOAA portátil, complementando o sistema fixo já instalado em Campinas, poderia aumentar ainda mais a qualidade dos dados e o conhecimento do ambiente.

Outros elementos complementares para o monitoramento dos biótopos serão brevemente oferecidos pelo sensor "Vegetation" do satélite SPOT 4, assim como pelo sensor POLDER/CNES acoplado à plataforma japonesa ADEOS/NASDA.

A combinação destes diferentes instrumentos de pesquisa pode permitir, num futuro próximo, a geração de um índice inédito sobre a qualidade do ambiente acridiano. Este índice (de periodicidade quinzenal ou mensal) permitiria acompanhar o estado fenológico da cobertura vegetal no conjunto da área de pululações. Seria particularmente importante para avaliar o estado dos biótopos durante a estação seca e início das chuvas, relacionando-se a uma probabilidade de pululação do gafanhoto. Estaria assim disponível, numa escala suficientemente abrangente para o Estado do Mato Grosso, uma previsão de risco de pululações deste gafanhoto, com algumas semanas ou mesmo alguns meses de antecedência, devido à existência de apenas uma única geração anual e de um desenvolvimento lento do inseto.



Figura 28. Os biótopos de R. schistocercoides vistos pelo satélite NOAA.

Em amarelo e laranja: zonas florestais;
Em azul escuro e azul claro: zonas de cerrado e campo cerrado, onde encontram-se os biótopos de R. schistocercoides.

Os padrões observados são resultados de classificação digital por verossimilhaça da imagem NOAA, em sistemas de tratamento de imagens, a partir da aquisição de amostras para locais de cobertura vegetal reconhecida no campo.


4.4.3. Pesquisa de um novo método de contole da praga

Enfim, pesquisas devem igualmente ser realizadas para a descoberta de um acridicida mais eficaz. Atualmente, somente inseticidas tradicionais são utilizados, no âmbito da estratégia aqui preconizada (malathion e fenitrothion, em particular). No entanto, estes produtos trazem riscos evidentes ao ambiente em caso de uso repetido e seu uso é, aliás, geralmente proibido em todas as reservas indígenas, as quais (sem ser a origem do problema, como já foi anteriormente afirmado) constituem verdadeiros refúgios, onde os gafanhotos podem continuar a se reproduzir com toda a tranquilidade.

A curto prazo, certos produtos novos podem substituir de forma eficaz os inseticidas atuais (fipronil, por exemplo) e merecem ser testados.

A médio prazo, uma solução de substituição pode ser oferecida pelos "biopesticidas" ou mais precisamente pelos "micopesticidas". Estes produtos são constituídos por esporos de fungos patógenos (Metarhizium anisopliae, M. flavoviride, Beauveria bassiana, por exemplo) em suspensão numa solução oleosa. As pesquisas realizadas até o momento mostraram um grande potencial destes fungos para o controle das pululações acridianas (LOMER & PRIOR, 1992). No Brasil, a Embrapa-CENARGEN conduz atualmente trabalhos sobre este tema (FARIA & MAGALHÃES, 1993; MAGALHÃES & GAMA, 1995). Muita pesquisa, evidentemente, deve ser desenvolvida antes de se dispor de um produto que possa ser comercializado. Além do mais, um micopesticida constituiria uma solução certamente elegante e extremamente adaptada ao problema do gafanhoto no Mato Grosso: baixíssimo impacto ambiental, aplicação em programa de controle preventivo, conciliação de interesses de agricultores e das populações indígenas.


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