4.3. A aplicação da estratégia

4.3.1. Princípios gerais

A estratégia aqui preconizada repousa sobre ações preventivas, viabilizadas pela evidenciação do caráter local das pululações e pela cartografia dos principais biótopos acridianos.

As zonas a serem prospectadas prioritariamente são os biótopos de reprodução que foram cartografados neste projeto. As cartas de biótopos podem constituir (se forem difundidas localmente) documentos estratégicos muito úteis para a condução das operações futuras de monitoramento e tratamentos preventivos.

Cada propriedade, cada município, pode dispor de tais cartas, onde o problema acridiano está espacializado, e pode fazer um balanço das principais zonas (geralmente não cultivadas) onde o gafanhoto ameaça reproduzir-se livremente durante a estação das chuvas antes de invadir as lavouras, primeiro no estágio ninfal e depois como adultos, no final do período chuvoso e durante a estação seca.

O monitoramento destas zonas pode ser muito facilmente direcionado a nível local. Os bandos de ninfas detectados poderão então ser tratados imediatamente.

4.3.2. Prática das operações de controle contra os bandos de ninfas

As operações de controle preventivo, dirigidas contra os bandos ninfais, podem ser realizadas durante os 5 a 6 meses de desenvolvimento dos estágios imaturos do inseto, de novembro a abril. Estas operações devem comportar as seguintes etapas:

As técnicas de tratamento atualmente disponíveis (produtos, material, condições de aplicação) mereceriam melhor avaliação, aprimoramento e adequação.

O equipamento para tratamento atualmente utilizado pelos proprietários é, em geral, pouco adaptado. Como os bandos de ninfas têm tamanho pequeno, as prospecções e os tratamentos devem ser realizados com a ajuda de equipamentos mais leves e baratos. Os seguintes equipamentos poderiam ser vantajosamente utilizados;

O inseticida empregado deveria, se possível, ter as seguintes características:

Vários inseticidas já foram testados contra R. schistocercoides (COSENZA et al., 1990; NAKANO et al., 1991). Atualmente, fenitrothion e malathion são ainda os dois produtos mais utilizados. O fipronil (comercializado pela empresa francesa Rhône Poulenc Agro), apresenta as características de um inseticida particularmente bem adaptado aos tratamentos preventivos contra os bandos ninfais de R. schistocercoides (ação por contato ou ingestão, toxicidade elevada contra todos os acridídeos testados até hoje, permanência de 15 dias ao menos, fraca toxicidade para todos os vertebrados, pouco lavado depois de uma chuva). Este novo produto figura há pouco tempo na Tabela I (FAO, 1995) dos produtos preconizados pela FAO para o controle de gafanhotos. As doses a serem adotadas para R. schistocercoides devem, no entanto, ainda ser determinadas através de testes.

A título indicativo, um pulverizador UBV tipo micron ULVA, cujo reservatório possui uma capacidade de 1 litro, permite tratar em cobertura total 4 bandos de ninfas de tamanho médio de 2.500 m2 , à razão de 1 litro de produto/ha. Com um inseticida como o fipronil, considerando-se a permanência do produto e tratando-se apenas a frente do bando como indicado acima, poder-se-ia aparentemente tratar 8 bandos de tamanho médio, ou talvez mais.

Mais detalhes práticos sobre as técnicas de pulverização UBV, por via terrrestre ou aérea, são encontrados em RACHADI (1991) e, em particular diferentes indicações para a escolha de parâmetros de tratamento (verificação do débito do equipamento de tratamento, escolha da altura de emissão das gotículas, modalidades de execução de tratamentos, importância da velocidade do vento e estimativa da distância de deriva, regulagem da velocidade de deslocamento na ocasião do tratamento, entre outros).

Concluindo-se, a estratégia de monitoramento e de tratamento dos bandos de ninfas apresentado e discutido acima repousa sobre uma análise aprofundada do problema acridiano no Mato Grosso e sobre uma sólida base de conhecimentos científicos. Ela deve permitir a combinação de eficiência e eficácia antiacridiana (forte mortalidade ninfal, economia de tempo e produto) e mínimo impacto ao ambiente (áreas tratadas reduzidas, pouco produto aplicado).



Figura 25. Dispositivo MICRONAIR AU 8000 adaptado a um pulverizador costal motorizado para realização de tratamentos do tipo UBV (segundo fotografia MICRONAIR, in RACHADI, 1991).

O fluxo de ar produzido pelo aparelho aciona o compartimento rotativo com hélice. O canhão é vertical para os tratamentos em deriva e oblíquo para os tratamentos a jato direcionado.



Figura 26. Pulverizador à pilha para tratamentos UBV: exemplo do MICRON-ULVA (segundo MICRON SPRAYERS, in RACHADI, 1991).

Gc, giclê calibrado; d, disco rotativo; pr, protetor do disco; r, reservatório; m, motor 12V; t, haste telescópica; cb, cabo tubular; p, pilha 1,5V; b; botão "liga-desliga".




Figura 27. Exemplo de tratamento de um bando ninfal deslocando-se ao vento (1) ou sob o vento (2) (modificado segundo STEEDMANN, 1988).

Zona em preto: frente do bando; zona em cinza: cauda. Com um inseticida de permanência leve e agindo por ingestão e contato, apenas a frente pode ser tratada, com os indivíduos da "cauda" intoxicando-se nas horas seguintes do tratamento, no momento que penetram na zona contaminada.


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