4. As Conseqüências Operacionais:

Desenvolvimento de Uma Nova Estratégia de
Controle Acridiano no Mato Grosso


4.1. A difusão dos resultados do projeto ou as idéias falsas a combater sobre o problema acridiano no Brasil.

A publicação e a difusão de resultados do projeto terão um papel fundamental na aplicação da estratégia de controle preconizada. De fato, os resultados do projeto discordam frontalmente das teorias até então vigentes, amplamente difundidas pela mídia e consideradas como verdades para numerosos técnicos.

A Tabela XIV apresenta um balanço das principais alterações na concepção do problema acridiano do Mato Grosso, conseqüentes dos resultados obtidos durante a execução deste projeto. Constata-se que a maioria das hipóteses anteriores tiveram que ser revistas. Um dos principais méritos deste projeto foi ter estabelecido as bases do conhecimento científico, necessárias para a compreensão do problema.

Freqüentemente, verifica-se uma quantidade enorme de mal-entendidos, relacionados à situação do Mato Grosso (e do Brasil em geral) e os resultados obtidos em outras regiões geográficas do mundo, referentes a diferentes espécies, em outras circunstâncias agroecológicas, sócio-culturais e econômicas. Estes mal-entendidos não trazem nenhuma luz aos debates.

Desta forma e a título de exemplo :

Os exemplos poderiam ser muitos outros, mostrando que seria urgente estabelecer, para a questão do gafanhoto do Mato Grosso, uma base de conhecimentos reais, fundada sobre fatos e evitando-se o espírito de polêmica. Seria conveniente, certamente, estender esta base aos outros problemas acridianos no Brasil.


Tabela XIV. As idéias iniciais sobre o problema acridiano no Mato Grosso e os fatos estabelecidos por este projeto.

Concepção antiga Concepção nova
(resultados do projeto)
Fenômeno novo. Fenômeno antigo.
Determinismo ligado ao desenvolvimento recente da agricultura. Determinismo sem relação com o desenvolvimento recente da agricultura.
Pululações resultantes de um desequilíbrio ligado ao desmatamento, à diminuição da fauna selvagem e à criação de novos ambientes favoráveis ao gafanhoto. Pululações ligadas a certos encadeamentos de condições pluviométricas, minimizando a mortalidade embrionária e ninfal e favorecendo um funcionamento ovariano elevado. Provável influência favorável das queimadas.
Os enxames têm uma capacidade de deslocamento significativa. Os enxames têm uma capacidade de deslocamento pouco significativa.
Existência provável de um fenômeno de polimorfismo fasário: seria uma locusta. Ausência de fenômeno de polimorfismo fasário: trata-se de um gafanhoto.
Existência aparente de uma invasão iniciada em 1983 e sem possibilidade de ser impedida. Inexistência de invasão; o gafanhoto sempre se distribuiu no conjunto de zonas de campo cerrado da Chapada dos Parecis.
Os biótopos do gafanhoto não são bem conhecid os; alguns julgam tratar-se de uma espécie de zona úmida, enquanto outros consideram que ela freqüente zonas mais secas. Os biótopos do gafanhoto são conhecidos; os mais favoráveis às pululações são constituídos por zonas de campo e campo cerrado da Chapada dos Parecis. Distinguem-se:
  • os biótopos de reprodução e de nomadismo sobre solos arenosos, amplamente deixados intactos pela agricultura;
  • os biótopos de nomadismo sobre solos mais pesados, amplamente desfavoráveis ao gafanhoto devido à introdução da agricultura.
As reservas indígenas são a origem das invasões. As reservas indígenas constituem apenas algumas das zonas de habitat natural do gafanhoto.
Migração dos enxames regularmente em direção ao leste. Os enxames nomadizam em todas as direções (principalmente num eixo N-S ou NE-SO).
Os enxames ameaçam os outros estados do Brasil (Goiás, primeiramente). O fenômeno é local e os enxames, oriundos do Mato Grosso, não ameaçam o resto do Brasil. No entanto, como a distribuição geográfica da espécie estende-se além da Chapada dos Parecis, algumas pululações locais podem, muito provavelmente, vir a se produzir em outras áreas fora do Mato Grosso, em função de condições ecológicas específicas.
A estratégia de controle deve visar impedir a invasão em sua progressão em direção ao leste. A estratégia de controle deve ser preventiva e procurar eliminar os bandos de ninfas em seus focos de origem, nas vizinhanças das culturas.


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