3.7.3. As cartas de vegetação

Nas oito cartas de vegetação elaboradas para a zona de estudo, as classes consideradas ressaltam as grandes unidades de vegetação, evidenciando as áreas importantes para a distribuição do gafanhoto. Estas cartas são apresentadas, em formato reduzido, no Anexo 1.

As seguintes unidades de vegetação foram diferenciadas: floresta, floresta de galeria, floresta inundável, floresta alterada, cerrado (savana arbustiva e arborizada), cerrado alterado, cerrado sobre solo rochoso, campo cerrado (savana arbustiva), campo cerrado alterado, campo cerrado com floresta de galeria, campo (savana pura), campo alterado, campo com floresta de galeria, campo inundável, zonas antropizadas (parcelar pequeno e médio: essencialmente pastagens; parcelar grande: culturas industriais extensivas).

Os tipos de vegetação favoráveis ao gafanhoto são fundamentalmente as zonas de campo e campo cerrado. O cerrado típico parece ser uma formação muito fechada e pouco freqüentada pelo inseto.

3.7.4. As cartas de biótopos acridianos

A título de exemplo, duas das 6 cartas de biótopos acridianos realizados neste projeto são apresentadas no Anexo 2, em formato reduzido.

Essas cartas ressaltam os principais tipos de biótopos que R. schistocercoides freqüenta no Mato Grosso, em toda a extensão da Chapada dos Parecis. Os biótopos mais ou menos favoráveis ao gafanhoto foram classificados tanto em função do seu grau de antropização, indo do ambiente essencialmente natural àqueles modificados pelo homem (Tabela XII), como em função de sua potencial adequabilidade ao inseto, seja do ponto de vista reprodutivo ou somente para o nomadismo em estação seca (Tabela XIII).

Com exceção das formações florestais e zonas inundáveis, os outros biótopos podem ser freqüentados, em graus diferentes, por R. schistocercoides.

Os ambientes mais favoráveis são aqueles representados por vegetação do tipo campo e campo cerrado. Em função da natureza do solo, pode-se distinguir os biótopos de reprodução sobre solo arenoso (D, Figura 24) e os biótopos de nomadismo sobre solo mais pesado, argilo-arenoso (E). Durante a estação seca, os biótopos de reprodução são igualmente os biótopos de nomadismo.

Os cerrados, mais fechados, são muito menos freqüentados pelo gafanhoto. Aqui também, segundo a natureza do solo, podem ser classificados em biótopos pouco favoráveis, mas onde a reprodução é possível (B) e biótopos pouco favoráveis, sem possibilidade de reprodução (C).

Com relação às áreas antropizadas, deve-se distinguir entre as zonas com parcelar grande (correspondentes, na Chapada dos Parecis, às extensas áreas de culturas) e o caso das zonas antropizadas com parcelar pequeno e médio, em geral ocupadas por pastagens. Para o gafanhoto, o potencial encontrado nesses dois casos é bem diferente, mas a distinção não é passível de ser verificada através das imagens de satélites, onde somente dados das dimensões do parcelar podem ser extraídos.

Nas zonas antropizadas com parcelar pequeno ou médio (ou seja, nas zonas de pastagens), pode-se igualmente distinguir biótopos favoráveis à reprodução sobre solos arenosos (F) e biótopos não adequados à reprodução, onde apenas o nomadismo em estação seca é possível. Além do mais, o valor desses ambientes para o inseto depende muito do tipo de pastagem: para aquelas naturais, o valor aproxima-se dos biótopos D e E; as pastagens artificiais (Brachiaria spp.), por outro lado, são menos atraentes ao gafanhoto que as espécies selvagens e também porque a cobertura vegetal é geralmente mais densa, considerando-se que o acridídeo prefere formações mais abertas e cobertura vegetal mais espalhada.

Nas zonas antropizadas com parcelar grande (áreas com extensas culturas de soja, arroz, milho e cana), é possível ainda distinguir as zonas sobre solo arenoso (H, a priori mais favoráveis à reprodução) e zonas sobre solos mais pesados, onde somente o nomadismo em estação seca é possível (I). Nos biótopos do tipo H, embora a reprodução seja possível, é geralmente muito perturbada pelos trabalhos agrícolas de preparação do solo (exceto no caso das culturas jovens de cana), os quais acontecem freqüentemente em momentos críticos do ciclo do gafanhoto. O manejo das culturas acarreta, por exemplo, a eliminação de oviposições pela aragem do solo, no início da estação chuvosa ou o esmagamento dos bandos de ninfas pelas ceifadeiras, no final da mesma estação. Aliás, nos biótopos de tipo H e I, durante toda a estação seca (excetuando-se mais uma vez as lavouras de cana), o solo é preparado, ficando sem cobertura herbácea capaz de assegurar a alimentação dos insetos durante este período do ano. Tratam-se, assim, de zonas onde os gafanhotos vão encontrar difíceis condições de sobrevivência.



Figura 24. Biótopos típicos de R. schistocercoides na Chapada dos Parecis: vegetação do tipo campo cerrado sobre solo arenoso, na região de Uirapuru.

(fotografias M. LECOQ)


Tabela XII. Os diferentes tipos de biótopos de R. schistocercoides (resultado do cruzamento dos tipos de solo x unidades de vegetação): classificação segundo a antropização do ambiente.

Biótopos acridianos Vegetação Solos
Biótopos naturais
A. Não colonizáveis. Florestas e campo natural inundável (1, 2, 3, 4, 14) Todos os tipos
B. Biótopos pouco favoráveis. Possibilidade de s reprodução pouco abundante em estação chuvosa e de nomadismo em estação seca. Cerrado (5, 6, 7) Arenosos
C. Biótopos pouco favoráveis. Nomadismo em estação seca possível. Não arenosos
D. Biótopos muito favoráveis. Zona de natural reprodução ideal. Bandos de ninfas muito freqüentes. Enxames muito freqüentes. Campo cerrado e campo
(8, 9, 10, 11, 12, 13)
Arenosos
E. Biótopos muito favoráveis. Nenhuma reprodução. Somente nomadismo. Enxames muito freqüentes. Não arenosos
Biótopos antropizados
F. Biótopos de reprodução favoráveis. Pequenas e médias zonas antropizadas (geralmente zonas de pastagens) (15, 16) Arenosos
G. Biótopos de nomadismo em estação seca. Não arenosos
H. Biótopos de reprodução possível, mas geralmente muito perturbado. Áreas antropizadas,parcelar grande(17) (geralmente zonas de grandes culturas) Arenosos
I. Biótopos de nomadismo em estação seca. Não arenosos

N.B. Todos os biótopos de reprodução são igualmente biótopos de nomadismo em estação seca. Os números relacionam-se às classes de vegetação da Tabela X. A importância dos biótopos H e I para o inseto é muito variável segundo a estação, o tipo e estado das culturas; o valor dos biótopos F e G é muito variável segundo o tipo de pastagem.


Tabela XIII. Os diferentes tipos de biótopos de R. schistocercoides (resultados do cruzamento dos tipos de solo x unidades de vegetação): classificação segundo o potencial para o gafanhoto.

Biótopos acridianos Vegetação Solos
Biótopos de reprodução e de nomadismo
D. Biótopos muito favoráveis. Zona de natural reprodução ideal. Bandos de ninfas muito freqüentes. En xames muito freqüentes. Campo cerrado e campo natural
(8, 9, 10, 11, 12, 13)
Arenosos
F. Biótopos de reprodução favoráveis. Zonas antropizadas com parcelar pequeno e médio (geralmente zonas de pastage ns) (15,16) Arenosos
H. Biótopos de reprodução possível, mas geralm ente muito perturbado. Zonas antropizadas com parcelar grande (geralmente zonas de grandes culturas extensivas) (17) Arenosos
B. Biótopos pouco favoráveis. Possibilidade de s reprodução pouco abundante em estação chuvosa e de nomadismo em estação seca. Cerrado (5, 6, 7) Arenosos
Biótopos unicamente de nomadismo
E. Biótopos muito favoráveis. Nenhuma reproduç&atildeo. Somente nomadismo. Enxames muito freqüente s. Campo cerrado e campo natural
(8, 9, 10, 11, 12, 13)
Arenosos
G. Biótopos de nomadismo em estação seca. Zonas antropizadas com parcelar pequeno e médio (15,16) (geralmente zonas de pastagens) Não arenosos
I. Biótopos de nomadismo em estação seca. Zonas antropizadas com parcelar grande(17) (geralmente zonas de culturas extensivas) Não arenosos
C. Biótopos pouco favoráveis. Nomadismo em estação de seca possível. Cerrado (5, 6, 7) Não arenosos
Biótopos não colonizáveis
A. Não colonizáveis. Florestas e campo natural inundável (1, 2, 3, 4, 14) Todos os tipos

N.B. Todos os biótopos de reprodução são igualmente os biótopos de nomadismo em estação seca. Os números relacionam-se às classes de vegetação da Tabela X. A importância dos biótopos H e I para o inseto é muito variável segundo a estação, o tipo e estado das culturas; o valor dos biótopos F e G é muito variável segundo o tipo de pastagem.

3.8 Resumo dos principais resultados

De todos os resultados obtidos e mencionados nos parágrafos precedentes, ressaltam-se:

Estes diferentes resultados têm implicações práticas evidentes, discutidas a seguir.


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