3.7. A cartografia dos biótopos acridianos

3.7.1. Objetivos

As missões para trabalho de campo, realizadas durante este projeto, permitiram identificar os diversos tipos de biótopos do gafanhoto e também evidenciar as variáveis estáticas (solo, natureza do substrato geológico etc.) e dinâmicas (tipos de vegetação, queimadas, uso das terras etc.) mais importantes para o gafanhoto. Com o detalhamento da ecologia de R. schistocercoides, tornou-se possível a elaboração de uma cartografia destes biótopos.

Objetivamente, esta cartografia específica deveria permitir a localização dos vários biótopos acridianos, situá-los em relação às zonas de culturas e pecuária, auxiliando uma melhor compreensão de suas relações mútuas.

Esta cartografia foi realizada essencialmente graças aos dados interpretados de imagens do satélite LANDSAT-TM, além de diversos outros dados cartográficos pré-existentes.

Esta foi uma das iniciativas mais originais do projeto, permitindo abordar globalmente o problema acridiano no Mato Grosso e cobrindo praticamente toda a área sujeita às infestações.

3.7.2. Metodologia e estruturação de uma base de dados georreferenciados

A zona definitivamente cartografada é aquela onde as pululações acridianas são regularmente mais significativas, abrangendo cerca de 142.284 km2 ou 80% do total das zonas de pululações (Tabela IX).

Uma base de dados georreferenciados foi estruturada em um sistema de informações geográficas (SIG) para facilitar as manipulações cartográficas e permitir a realização dos cruzamentos de dados para evidenciar os diferentes biótopos acridianos.

A escala cartográfica escolhida foi de 1:250.000. A base cartográfica e a toponímia foram fornecidas pelas cartas do IBGE. O conjunto da área cartografada é coberto pelas 8 folhas seguintes na escala 1:250.000 : Aldeia Espirro, Rio Treze de Maio, Comodoro (Vila Oeste), Campo Novo do Parecis (Utiariti), Uirapuru, Tangará da Serra (Mir 371), Rosário Oeste, Paranatinga. Estas folhas foram consideradas como 8 "projetos" no contexto do SIG. Cada projeto continha uma série de "planos de informação" relativos à toponímia, rede hidrográfica, malha viária e limites administrativos.

O plano de informação relativo à carta de solos (1:1.000.000) foi extraído do projeto RADAMBRASIL (1982).

Para o plano de informação relativo à vegetação, a carta de formações vegetais do Projeto RADAMBRASIL, elaborada a partir de dados de 1977 a 1981, não pôde ser utilizada. Foram então realizadas cartas de unidades de vegetação, mais adaptadas ao objeto de estudo, através de um trabalho de interpetração analógica de imagens recentes (papel e transparência positiva) do satélite LANDSAT-TM (bandas 3, 4 e 5), nas escalas 1:250.000 e 1:1.000.000. Cada imagem cobre aproximadamente uma superfície de 34.000 km². Onze cenas foram escolhidas (pontos/órbitas 225/70; 226/70; 227/68,69 e 70; 228/68,69 e 70; 229/68,69 e 70) e 2 conjuntos de imagens foram adquiridos para cobrir a abrangência da zona de interesse do projeto com 3 anos de intervalo, em 1990 e 1993. A maior parte das imagens foram selecionadas entre os meses de julho e setembro (estação seca). O contraste das formações vegetais nestas imagens permitiu uma boa interpretação de seus limites.

As interpretações foram validadas no campo em cada missão realizada no Mato Grosso. Um aparelho de GPS foi utilizado para confirmar alguns limites entre as unidades de vegetação. A disponibilidade de um par de imagens, adquiridas com 3 anos de intervalo, permitiu evidenciar as mudanças recentes no uso das terras e as unidades de vegetação mais estáveis.


Tabela IX. Localização geográfica das cartas da área de pululação de R. schistocercoides realizadas neste projeto.


As cartas dos biótopos acridianos foram elaboradas em seguida, a partir do cruzamento das cartas de vegetação e das cartas de solo, após um trabalho de homogeneização de escalas e de projeções.

Seis cartas de biótopos foram realizadas. Elas correspondem à parte oeste da zona de estudo, aquela onde a probabilidade de pululações é máxima. Na parte leste, tal probabilidade é mais fraca e a estrutura dos solos mais complexa; além do mais, as relações solos-gafanhotos permanecem ainda menos esclarecidas e necessitariam de estudos complementares.

O cruzamento digital foi precedido pela reclassificação dos tipos de vegetação e dos tipos de solos, em função de sua importância para o gafanhoto. As seguintes etapas foram realizadas:

  1. Reclassificação dos tipos de vegetação em relação ao gafanhotos (Tabela X):

    As formações vegetais foram agrupadas em 5 classes:

    Obs.: Para as classes colonizáveis 1 e 2, a importância para o gafanhoto deve ser discutida caso a caso, em função do uso das terras.

  2. Reclassificação dos tipos de solos para o gafanhoto (Tabela XI):

    Somente duas classes de solos foram diferenciadas: solos arenosos favoráveis à reprodução e solos não arenosos pouco favoráveis ou desfavoráveis à reprodução.

  3. Cruzamento das 2 classes de solos com as 5 classes de vegetação e definição dos biótopos acridianos:

    Foram definidas, assim, 9 classes de biótopos, correspondendo a combinações das classes de solo com as classes de vegetação.

  4. Realização de 6 cartas de biótopos:

    Elaboradas na escala 1:250.000, ressaltando-se as 2 principais dicotomias: entre os biótopos de reprodução e de nomadismo, de uma parte e entre os biótopos naturais e antropizados, de outra.

    Todas as cartas, de formações vegetais e de biótopos, inicialmente realizadas em forma digital em um SIG, foram em seguida editadas e impressas em papel.


Tabela X. Classificação dos tipos de vegetação para R. schistocercoides.

Tipo de formação vegetal Importância para o gafanhoto

1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17

Floresta
Floresta de galeria
Floresta de várzea
Floresta alterada
Cerrado
Cerrado alterado
Cerrado rochoso
Campo cerrado
Campo cerrado alterado
Campo cerrado com floresta de galeria
Campo natural
Campo natural alterado
Campo natural com floresta de galeria
Campo natural inundável
Áreas antropizadas, parcelar pequeno
Áreas antropizadas, parcelar médio
Áreas antropizadas, parcelar grande

Não colonizável
Não colonizável
Não colonizável
Não colonizável
Pouco favorável
Pouco favorável
Pouco favorável
Favorável
Favorável
Favorável
Favorável
Favorável
Favorável
Não colonizável
Colonizável 1
Colonizável 1
Colonizável 2


Tabela XI. Classificação dos tipos de solos para R. schistocercoides.

Tipo Classes RADAM Importância para o gafanhoto

1

4

Solos arenosos

Outros

AQa AQd Led8

Outras classes

Favoráveis à reprodução

Muito pouco ou não favoráveis


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