3.2.4. Condições meteorológicas

3.2.4.1. Características gerais

A maior parte da área de habitat de R. schistocercoides no Mato Grosso está situada em região de clima tropical quente semi-úmido (Figura 4).

Durante todo o ano, sob a influência do anti-ciclone subtropical do Atlântico Sul, o tempo é estável e os ventos são geralmente do setor N a NE. Esta situação e também a insolação estão freqüentemente sujeitas a bruscas variações, devido a diferentes sistemas de circulação atmosférica alterados, portadores de precipitações (NIMER, 1989). Os três principais são os sistemas alterados do oeste (ligado a linhas de instabilidade tropicais, portadores de chuvas e temporais, mais freqüentes no verão), do norte (ligados à zona de convergência intertropical, portadores de temporais inesperados, tanto no verão como no outono e inverno, mas de importância mínima sobre a região) e do sul (devidos a uma penetração do anti-ciclone polar, essencialmente no inverno e provocando chuvas frontais e pós-frontais sobre toda a região durante 1 a 3 dias consecutivos).

A temperatura média anual, na área de habitat de R. schistocercoides no Mato Grosso, é da ordem de 24 oC. Os meses mais quentes são setembro e outubro. A temperatura máxima absoluta situa-se entre 36 e 42 oC. Junho e julho são os meses mais frios, com mínimas absolutas entre 0 e 4 oC.

A pluviometria média anual aumenta regularmente de 1.250 mm ao sul até 2.250 mm ao norte da área de habitat (Figura 5). O regime de chuvas é tipicamente tropical, com um máximo no outono e um mínimo no inverno. Aproximadamente 70% das precipitações caem entre novembro e março. Os meses de janeiro, fevereiro e março são os mais chuvosos. Durante o período de inverno, as chuvas são raras e pouco abundantes. A duração do período seco (definido por P inferior ou igual a 2 T) é de 4 meses sobre a maior parte da área de pululação (Figura 4).



Figura 4. As grandes divisões climáticas e a duração da estação seca na área de pululações de R. schistocercoides no Mato Grosso e Rondônia (segundo NIMER, 1989).

Linha pontilhada, limites das principais zonas de pululações do gafanhoto.



Figura 5. Isoietas anuais na área de pululações de R. schistocercoides no Mato Grosso (segundo NIMER, 1989).

Linha pontilhada, limites das principais zonas de pululações do gafanhoto.


3.2.4.2. As condições meteorológicas na Chapada dos Parecis

Os fatores meteorológicos constituem elementos importantes na dinâmica das populações acridianas. O conhecimento da influência desses fatores tornou-se indispensável para o estudo de R. schistocercoides. Em particular, a irregularidade pluviométrica mencionada acima, ainda que fraca em relação à escala anual é, na realidade, bastante forte em certos períodos do ano, desempenhando um papel fundamental na dinâmica das populações acridianas e no determinismo de suas pululações.

Seria conveniente, para este estudo, dispor de dados diários. No entanto, constatou-se que os dados meteorológicos para a Chapada dos Parecis são extremamente raros e de acesso difícil. Foi necessário, então, constituir uma base de dados própria, coletando pacientemente as informações existentes e disponíveis.

Tais dados são provenientes, em parte, do 9 º Distrito de Meteorologia, sediado em Cuiabá, vinculado ao INMET. Infelizmente, não existe nenhuma estação meteorológica sinóptica oficial na Chapada dos Parecis. A estação de Diamantino, ainda que próxima, está situada ao pé da Chapada, a uma altitude diferente. A estação da destilaria ALCOMAT, no município de Comodoro, funcionou apenas alguns anos, entre 1987 e 1992. Foi necessário completar estas informações com dados (essencialmente de pluviometria) de diversas fazendas ou cooperativas privadas (COPRODIA e ITAMARATI Norte, principalmente). Finalmente, uma base de dados suficientemente confiável pôde ser constituída, comportando informações sobre temperatura, pluviometria, ventos, em escala diária ou mensal, segundo as estações (Figuras 6 a 9). Reuniu-se, assim, uma idéia mais precisa das condições meteorológicas enfrentadas pelo gafanhoto, sendo possível identificar certos fatores chaves na regulação de seus efetivos populacionais.

Os dados coletados mostram que R. schistocercoides vive em zonas de cerrados, submetidas a condições amenas e chuvosas, marcadas por certos episódios muito frios, ao longo da estação seca. Trata-se, aliás, de zonas de cerrado onde a estação das chuvas começa mais cedo e termina mais tarde e onde os períodos secos durante a estação chuvosa (veranicos) são os mais curtos. Estas condições são sensivelmente diferentes daquelas existentes ao pé da Chapada, nas zonas situadas mais a leste ou mais ao sul, como em Cuiabá, por exemplo.

A comparação dos dados meteorológicos da ALCOMAT com aqueles de Cuiabá, cidade situada aproximadamente a dois graus de latitude mais ao sul (e onde uma estação sinóptica está operacional desde 1912), permite ressaltar claramente a originalidade do clima da Chapada e mostrar a necessidade de utilizar dados específicos (Figura 8). A diferença da média das temperaturas médias mensais entre a ALCOMAT e Cuiabá atinge 4 °C, na estação quente, e 2 °C na estação fria. A pluviometria média anual (para o período 1987-92) é de 1.963 mm na ALCOMAT contra somente 1.552 mm em Cuiabá. Enfim, a umidade relativa é em média 8% superior na ALCOMAT (média anual de 81%, contra 73% em Cuiabá).

Portanto, o clima da Chapada apresenta-se mais frio e mais úmido que aquele das zonas de cerrado situadas mais ao sul e em menores altitudes. Com efeito, a destilaria ALCOMAT está situada a uma altitude aproximada de 600 m e Cuiabá a apenas 200 m. Estas particularidades do clima da Chapada poderiam explicar a manutenção, durante a estação fria, de uma vegetação menos seca e mais favorável à alimentação e à sobrevivência do gafanhoto. As zonas de cerrado de baixa altitude, situadas ao sul seriam, durante o período seco, muito mais desfavoráveis.



Figura 6. Diagrama ombrotérmico (P = 2T) da região de Uirapuru (posto meteorológico da destilaria ALCOMAT, 14°16' S - 59°14'W; período 1987-1992) situada em plena área de pululações de R. schistocercoides no Mato Grosso.



Figura 7. Diagrama ombrotérmico (P = 2T) da região de Campo Novo do Parecis (posto meteorológico da COPRODIA, 13°45' S - 57°48'W; período 1983-1994) em plena área de pululações de R. schistocercoides no Mato Grosso.



Figura 8. Comparação das temperaturas, precipitações e umidades relativas médias mensais em Cuiabá e na ALCOMAT.

ALCOMAT: anos 1987-89
Cuiabá: normais climatológicas 1961-1992.



Figura 9. Freqüências das direções de ventos durante a estação seca (maio a setembro), na área de pululações de R. schistocercoides, no Mato Grosso.


voltar anterior proximo